



A Ponte de Cavez está classificada como Monumento Nacional desde 1910, ou seja, integra o primeiro documento legislativo onde se faz uso desta designação aplicada ao património edificado.
Está localizada no rio Tâmega, na Vila de Cavez, concelho de Cabeceiras de Basto.
É uma construção da época medieval, construída na segunda metade do século XIII, e servia a estrada medieval que ligava Braga a Vila Pouca de Aguiar. É também a fronteira mítica que divide as províncias do Minho e de Trás-os-Montes.
A ponte de pedra foi construída para substituir uma outra ponte, em madeira, que estaria em mau estado de conservação.
A sua construção é atribuída a Frei Lourenço Mendes, monge dominicano, que custeou as obras com as esmolas que ia recolhendo, estando tal facto bem documentado em alguns legados testamentários.
Durante a construção da ponte foram atribuídos a Frei Lourenço vários milagres, um deles associado ao início da construção.
De facto, nos seus primórdios a ponte começou a ser erguida no lugar de Vila Franca, junto ao rio Tâmega. Um dia, os pedreiros que nela trabalhavam ouviram uma voz sobrenatural, que ia repetindo frequentemente:
“– Aqui não, mais acima.”
A tradição popular atribuiu esta voz a S. Bartolomeu, santo de tradições seculares, que ainda hoje é celebrado na capela da Casa da Ponte.
Decidiram os pedreiros mudar o local da construção para junto do Poço das Laranjeiras, mas mais uma vez, a mesma voz se fez ouvir:
“– Aqui não, mais acima.”
À terceira tentativa foi de vez e a ponte foi construída junto à capela de S. Bartolomeu, ainda hoje existente e que integra uma propriedade privada.
Um outro milagre.
Os trabalhadores da obra não recebiam qualquer compensação, sendo por isso designados como os anjos que construíram a ponte. Para que estes fossem alimentados, S. Lourenço fez surgir três fontes: uma de água, outra de vinho e outra de azeite. E tendo pousado o seu bordão no rio, aí começaram a aparecer muitos peixes com os quais os pedreiros se alimentavam.
Conta-se que S. Lourenço terá morrido no local, sendo sepultado à entrada da ponte, onde terá existido um letreiro que dizia:
“Esta é a Ponte de Cavez,
E aqui jaz quem a fez.”
Inserida numa paisagem idílica, a ponte de Cavez é robusta, alta e esbelta, sendo uma notável obra arquitetónica do concelho de Cabeceiras de Basto.
Mede 17 metros de altura por 95 metros de cumprimento e 5,75 metros de largura; possui 5 arcos – sendo três arcos quebrados centrais, e dois de volta perfeita junto às margens – e tem pegões reforçados com talhamares agudos e compridos no fundão do leito do rio.
Sabemos que a ponte sofreu obras de requalificação durante o reinado de Filipe II, tendo nessa altura sido introduzidos os arcos de volta perfeita e colocado um marco no meio da ponte (1599).
No século XIX, aquando da construção da estrada de Fafe a Vila Pouca de Aguiar, o tabuleiro foi alargado.
Mais recentemente foram-lhe aduzidas grades metálicas.
É importante referir que desde há muitos anos, em ambas as margens, se realiza a popular festa religiosa de S. Bartolomeu de Cavez.
A margem direita, na província do Minho, situa-se a capela dedicada a S. Bartolomeu, que pertence à Casa da Ponte (solar privado), e à qual ocorrem os crentes para pedir a intercessão divina do Santo. Na outra margem, na província de Trás-os-Montes, fica a fonte milagrosa – a fonte de S. Bartolomeu.
Fotos por: Rui Machado.
Referência bibliográfica:
Cláudio Brochado – Cabeceiras de Basto: História e Património. Cabeceiras de Basto: Câmara Municipal, 2013. p. 284.
Albertino Gonçalves – Cabeceiras de Basto: História e Património. Cabeceiras de Basto: Câmara Municipal, 2013. p. 282.
Victor Cunha – Monografia de Cabeceiras de Basto: Histórias, Lendas, curiosidades. Cabeceiras de Basto. 1958. p. 30.
Texto existente no Museu das Terras de Basto intitulado: Retalhos de Tradição, por Zé Pedro Lendário.